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domingo, 11 de setembro de 2011

A avaliação moral

 A avaliação moral compreende três elementos:
  1. O valor atribuível
  2. O objeto avaliado
  3. O sujeito que avalia
Numa caracterização geral da avaliação moral, a avaliação, por ter atribuição de um valor constituído ou criado pelo homem, possui um caráter concreto, histórico, social. Também é preciso considerar que se pode atribuir valor moral a um ato se, e somente se, tiver ele conseqüências que afetam a outros indivíduos, a um grupo social ou à sociedade inteira. A avaliação é sempre atribuição de um valor por parte de um sujeito. Portanto, pelo valor atribuído, pelo objeto avaliado e pelo sujeito que avalia, a avaliação tem sempre um caráter concreto, ou seja, é a atribuição de um valor concreto numa situação determinada.

A avaliação moral pressupõe um critério geral a partir do qual se atribui um juízo de valor a uma ação ou a uma norma de conduta. Esse critério geral é uma interpretação histórica do que seja o bem/mal. Isso fica claro quando analisamos os juízos de valor emitidos no cotidiano. Normalmente não se afirma que tal ação, do indivíduo tal, é valiosa, mas afirma-se que é boa ou má. Embora opostos, bem/mal estão sempre em correlação. Saber o que é bom é saber o que é mau.

Sendo assim, avaliaremos o valor moral fundamental: a bondade.

• O bom como valor:

O ato moral pretende ser uma realização do “bom”. Comportando-se moralmente, os homens aspiram ao bem, isto é, a realizar atos moralmente bons. Definir o bom implica definir o mau. De uma sociedade para outra, mudam as idéias sobre o bom e o mau de acordo com as diferentes funções da moral efetiva de cada época, e essas mudanças se refletem sob a forma de novos conceitos nas doutrinas éticas. Nos povos primitivos o bom é, antes de tudo, a valentia, enquanto o mau é a covardia. Com a divisão da sociedade em classes, perde o seu significado universal humano. Na Idade Média é bom o que derivada vontade de Deus. Nos tempos modernos, o bom é o que concorda com a natureza humana concebida de uma maneira universal e abstrata que podemos definir no pensamento ético como felicidade, prazer, boa vontade, utilidade. Mas também pode ser caracterizado como verdade, poder, riqueza e Deus.

O bom como valor, é algo que fazemos espontaneamente. A esta avaliação moral que fazemos quase sem dar conta, chamamos de "voz da consciência", isto é: a capacidade natural de perceber em cada caso concreto qual o dever e qual o bem a que é necessário atender em primeiro lugar. A consciência avalia a prioridade e a medida oportunas baseado no sistema de crenças do indivíduo.

• O bom como felicidade (eudemonismo):

Aristóteles parte do princípio de que o bem último visado por todos os seres humanos é a felicidade. As outras coisas consideradas boas são meios, por vezes imprescindíveis para ser feliz. Meios que, na perspectiva realista de Aristóteles, dependem de certas condições sociais concretas. Na interpretação de Vázquez, Aristóteles considera que a felicidade está no exercício da razão, uma vez que esta especifica os seres humanos e os distingue dos demais. A contemplação exige uma série de condições, como segurança econômica, liberdade pessoal, sem as quais não se pode ser feliz. Motivo pelo qual o filósofo considerava que os escravos, as mulheres e as crianças não podem ser felizes.

Vázquez concorda que a felicidade é impossível quando se vive em situação de miséria, de exploração, de discriminações, de falta de liberdade política. Mas, ainda na perspectiva de Aristóteles, afirma que a criação das condições favoráveis não garante a felicidade, uma vez que pode haver muitos obstáculos para a obtenção da felicidade, como os fracassos pessoais no amor, no exercício profissional; as doenças; as mortes. Contudo, as condições sociais influem decisivamente para que cada indivíduo possa ser feliz. 

Este conteúdo varia de acordo com as relações sociais que o determinam e a cujos interesses serve. Portanto, não se pode considerar, como adequada à natureza humana em geral, a felicidade que hoje se reduz às tendências egoístas do indivíduo ou ao seu “espírito de posse”. Numa sociedade na qual não vigore o princípio da propriedade privada nem a onipotência do dinheiro, e na qual o destino pessoal não se possa conceber separado da comunidade, os homens terão de buscar outro tipo de felicidade.
• O bom como prazer (hedonismo):

O termo significa tanto o sentimento ou estado afetivo agradável que está presente em diferentes experiências e cujo oposto é o desprazer, quanto à sensação agradável produzida por certos estímulos, cujo oposto é a dor. Mas já para Epicuro, ao formular sua filosofia do prazer, não se refere aos prazeres sensíveis, imediatos e fugazes, cuja curtição imoderada acaba por provocar males, mas refere-se a prazeres mais duradouros e superiores; grego como foi, prioriza os prazeres intelectuais e estéticos.
Veja as teses básicas do hedonismo ético:
  • Todo prazer é intrinsecamente bom – Essa tese pressupõe que o ser humano deseja o prazer e procura evitar a dor. Sanchez Vázquez objeta que o fato der ser desejado não é critério de bondade, uma vez que em termos morais se devem considerar os possíveis efeitos das ações, principalmente os que atingem a terceiros. Para que tenha uma significação moral o prazer não pode ser considerado apenas intrinsecamente ou em si mesmo, mas também extrinsecamente, isto é, com relação às conseqüências da ação para o meio e para os outros. Isso significa que tal tese não tem, a rigor, significação moral.
  • Somente o prazer é intrinsecamente bom – É certo que uma boa ação pode produzir satisfação em quem a executa, mas segundo essa tese o seu valor moral não tem a ver com a bondade da ação, ou com as conseqüências, mas com o prazer que produz.  Mas uma ação moralmente negativa também pode ser prazerosa para quem a pratica, mesmo que os afetados por tal ação sofram as conseqüências negativas. O problema é que o bem não pode ser reduzido ao prazer ou estar a serviço deste, como se fosse algo meramente instrumental.
  • A bondade de uma ação é proporcional ao prazer que produz – Sendo que esta proporcionalidade pode ser quantitativa (mensurável, sem relação com o valor ou a bondade), ou qualitativa (correlacionando a qualidade com o valor ou a bondade).
O hedonismo é um subjetivismo porque reduz tudo a reações psíquicas do indivíduo, e, ao passar da constatação do fato (vivência prazerosa) ao juízo de valor comete uma falácia lógica.
 
• O bom como “boa vontade” (formalismo Kantiano):

Kant defende que o bom deve ser algo incondicionado, sem restrição alguma. A felicidade está sujeita a certas condições, e se essas não se verificam não se pode ser feliz. A boa vontade é uma determinação de fazer algo, de ser bom de uma maneira absoluta, sem restrição alguma, em toda circunstância e em todo momento, sejam quais forem os resultados ou as conseqüências da nossa ação, ou seja, a vontade que age não só de acordo com o dever, mas pelo dever, determinada, única e exclusivamente pela razão. Contra esta concepção Kantiana da “boa vontade”, existem algumas objeções mas em suma, por seu caráter ideal, abstrato e universal, oferece-nos um conceito do bom totalmente inexequível neste mundo real e, portanto, inoperante para a regulamentação das relações entre os homens concretos.
  
• O bom como útil (utilitarismo):

Útil para quem?  O que significa útil? Essa pergunta não pode ser interpretada de forma egoísta, pois os autores não defendem o egoísmo ético. Mas o sentido oposto o bem para os outros seria altruísta, que também não é a posição defendida. O egoísmo exclui os outros e o altruísmo exclui o interesse pessoal. O utilitarismo visa superar este antagonismo afirmando que bom é aquilo que é útil ou vantajoso para o maior número de pessoas, incluindo também o meu interesse pessoal.

O utilitarismo depara-se imediatamente com o problema do conflito entre diversos interesses. Quando o interesse geral exige que os indivíduos disponham inclusive de suas vidas, por exemplo, numa guerra, para a defesa do bem-estar, como resolver o problema, uma vez que não se supõe o altruísmo? A solução vem do cálculo: maior bem-estar para um maior número. O utilitarismo adota o critério do resultado da expectativa das conseqüências. Se as conseqüências forem vantajosas para um número maior de pessoas a ação foi útil, isto é, boa. Como as conseqüências são posteriores à ação, faz-se necessário um cálculo prévio dos prováveis efeitos.

Para mostrar o problema desta teoria podem-se pensar a hipótese de se ter 5 pacientes aguardando por órgãos para um transplante, diante de uma pessoa sadia, que dispõe dos órgãos. O bem para o maior número nesse caso autorizaria matar uma pessoa para beneficiar as outras cinco?

A natureza do bom:

A relação entre o indivíduo e a comunidade varia com o tempo e com as diferentes sociedades. Na sociedade moderna o bom só pode ocorrer realmente na superação da fusão entre o indivíduo e a comunidade, ou na harmonização dos interesses pessoais com os verdadeiramente comuns ou universais. A realização do bom na superação do círculo estreito dos interesses exclusivamente pessoais, no significado social da atividade do indivíduo, d otrabalho ou do estudo e na transformação das condições sociais, acarreta uma peculiar relação determinada pela estrutura social. O egoísmo e suas opostas manifestações – solidariedade, cooperação e ajuda mútua – são encorajadas ou obstaculizadas de acordo com as condições concretas nas quais vivem os homens. Por isso, o problema do bom como conjunção dos interesses pessoais e dos interesses coletivos é inseparável do problema das bases e das condições sociais que tornam possível a sua realização.
 
 http://artedeviver.no.sapo.pt/juizodaconsciencia.htm / http://pt.scribd.com/doc/58173862/7/CAPITULO-VII-A-AVALIACAO-MORAL / http://www.artigonal.com/administracao-artigos/observacao-geral-a-avaliacao-moral-4184200.html / http://www.cfh.ufsc.br/~conte/hume-albieri.pdf / http://www.dejovu.com/mensagens/ver/?29723

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